Palympseste
Une vie hantée par les mots
les mots de couleur, de saveur
les mots de tendresse, de beauté
les mots qui crient
qui signifient
qui signifient d’avantage
les mots qui débordent
et s’évaporent
À la recherche des mots
dans la poésie, la philosophie
Van Ostaijen – Rimbaud – Pessoa
dans les paysages
dans le regard
Les mots éclatent
couche après couche,
on les écrit inlassablement
au crayon – à l’encre – au pastel
Les mots apparaissent, se déforment, disparaissent
Ils sont là
ils n’y sont plus
une trace
On n’a qu’à les lire, les paysages de silence.
Lut Caenen
janvier 2016
Une vie hantée par les mots
les mots de couleur, de saveur
les mots de tendresse, de beauté
les mots qui crient
qui signifient
qui signifient d’avantage
les mots qui débordent
et s’évaporent
À la recherche des mots
dans la poésie, la philosophie
Van Ostaijen – Rimbaud – Pessoa
dans les paysages
dans le regard
Les mots éclatent
couche après couche,
on les écrit inlassablement
au crayon – à l’encre – au pastel
Les mots apparaissent, se déforment, disparaissent
Ils sont là
ils n’y sont plus
une trace
On n’a qu’à les lire, les paysages de silence.
Lut Caenen
janvier 2016
Leitura impossível
“O essencial é saber ver
Saber ver sem estar a pensar,
Saber ver quando se vê,
E nem pensar pensar quando se vê
Nem ver quando se pensa.”
Fernando Pessoa
Alberto Caeiro
Camada após camada
as palavras densificam-se as palavras rebentam
são escritas as palavras as palavras são e deixam de ser
pintadas vão além, sempre além
com todas as mãos as palavras transbordam
traços de lápis e recuam
traços de tinta deixam um vazio
condensadas ou marginais um vazio
estão guardadas as memórias para o sopro
num silêncio ruidoso e a dança
La lecture des marges
Wat als de rand ons wat te vertellen had?
Wat als de figuren in de rand ons wat, ons heel wat te vertellen hadden?
Wat als wat in de rand leeft een wezenlijke voorwaarde was om de wereld open te leggen, om de wereld wereld te laten zijn?
Nooit is de wereld af. Nooit is hij volbracht. Altijd zijn er andere mogelijkheden, altijd andere stemmen die ons losrukken uit onze zelfgenoegzaamheid.
Het laatste woord is nog niet gezegd.
Altijd is het woord een inspiratie, het woord en dat wat altijd veel verder reikt dan het woord zelf: al de lagen van betekenis, al de herinneringen, dat wat leesbaar is en dat wat over de einders heen reikt.
Het schrift inspireert het tekenen, de vele lagen en gelaagdheid van schriftuur die af en toe nog wat laten doorschemeren: een veeg, een streek, een spoor van een woord. In het beeld wordt het woord een dans.
Naar de rand gedreven door het leven. Zo zijn vele levens. Zij nodigen ons uit, zij dwingen ons anders te kijken, anders te luisteren, anders te lezen. De eindjes worden niet aan elkaar geknoopt. Er zijn openingen, breuken. Er is ruimte. Daar kunnen we ademen, daar kunnen we leven.
Lut Caenen april 2017
A escrita antes da escrita
É da vida para a escrita o caminho da caligrafia, mas os desenhos de Lut Caenen fazem o percurso inverso.
Tal como o tempo, as leis da física e os acidentes da biologia escrevem a sus história nos veios destas pedras, na casca destas árvores, no rendilhado dos ramos e das folhas, essa involuntária caligrafia do tempo e da usura, assim esta caligrafia regressa ao aleatório, ao caos, à bruma onde as coisas estão anunciadas mas ainda não estão.
É da escrita que partem e é a partir da escrita, a partir do interior da caligrafia, que se desemaranham e se desenovelam os gestos que lhe deram origem. Gestos que regressam à paisagem e ao corpo, à dúvida e à interrogação, à procura, às sensações anteriores à escrita, à razão e ao coração, à caligrafia das emoções e dos movimentos, a tudo o que está antes da escrita e a provoca e a exige, a justifica. A tudo aquilo que está antes do tempo, por dentro da escrita e do poema, a tudo aquilo de que a escrita e o poema são fruto e fóssil, reflexo, sombra e eco.
São brumosas estas paisagens porque nada está ainda delineado e tudo está à mostra. Tudo se adivinha mas nada se vê, tudo é possível mas ainda nada é, ou tudo é e tudo é ainda uma só coisa. É de uma dança que se trata, mas não uma dança onde tudo seja harmonia. Há gritos à espera de serem escritos que por enquanto só gritam sem palavras. Silêncios. Trata-se de compreender o ar onde nos movemos e que respiramos, é da matéria dos sonhos antes da interpretação dos sonhos que falamos. Sonhos de viagens, inventadas e reais, como a escrita. É de luz que se trata. De uma luz que ainda mal apareceu ou que nos queima os olhos ou que se desvanece em lusco-fusco.
São miragens estas paisagens, miragens onde o ar vibra e nos diz que o que vemos existe mas não sabemos onde. Que o que vemos vai ser escrito mas ainda não sabemos o que vai dizer, que foi escrito mas ainda não sabemos o que disse porque o mistério continua inteiro.
José Vítor Malheiros, jornalista
É da vida para a escrita o caminho da caligrafia, mas os desenhos de Lut Caenen fazem o percurso inverso.
Tal como o tempo, as leis da física e os acidentes da biologia escrevem a sus história nos veios destas pedras, na casca destas árvores, no rendilhado dos ramos e das folhas, essa involuntária caligrafia do tempo e da usura, assim esta caligrafia regressa ao aleatório, ao caos, à bruma onde as coisas estão anunciadas mas ainda não estão.
É da escrita que partem e é a partir da escrita, a partir do interior da caligrafia, que se desemaranham e se desenovelam os gestos que lhe deram origem. Gestos que regressam à paisagem e ao corpo, à dúvida e à interrogação, à procura, às sensações anteriores à escrita, à razão e ao coração, à caligrafia das emoções e dos movimentos, a tudo o que está antes da escrita e a provoca e a exige, a justifica. A tudo aquilo que está antes do tempo, por dentro da escrita e do poema, a tudo aquilo de que a escrita e o poema são fruto e fóssil, reflexo, sombra e eco.
São brumosas estas paisagens porque nada está ainda delineado e tudo está à mostra. Tudo se adivinha mas nada se vê, tudo é possível mas ainda nada é, ou tudo é e tudo é ainda uma só coisa. É de uma dança que se trata, mas não uma dança onde tudo seja harmonia. Há gritos à espera de serem escritos que por enquanto só gritam sem palavras. Silêncios. Trata-se de compreender o ar onde nos movemos e que respiramos, é da matéria dos sonhos antes da interpretação dos sonhos que falamos. Sonhos de viagens, inventadas e reais, como a escrita. É de luz que se trata. De uma luz que ainda mal apareceu ou que nos queima os olhos ou que se desvanece em lusco-fusco.
São miragens estas paisagens, miragens onde o ar vibra e nos diz que o que vemos existe mas não sabemos onde. Que o que vemos vai ser escrito mas ainda não sabemos o que vai dizer, que foi escrito mas ainda não sabemos o que disse porque o mistério continua inteiro.
José Vítor Malheiros, jornalista